Você já percebeu, caro consumidor, como dá trabalho ser respeitado no dia-a-dia pelos nobres fornecedores de produtos e serviços? A gente tem que estar atento diuturnamente, senão somos passados pra trás, assim, sem mais nem menos.
É no ônibus, quando o cobrador não tem troco, ou quando o motorista não pára naquela parada que você precisava descer. É numa agência bancária, onde você fica, às vezes, mais de uma hora na fila para ser atendido e, se reclama, pode passar por chato, mal educado ou neurótico. É no caixa eletrônico quando você vai conferir seu saldo e vê que não está de acordo com aquilo que você tem certeza que tem.

   Quer mais, consumidor? Então tome!

   É na escola do seu filho, onde o colégio pede para os pais levarem pincel para quadro branco – e você acaba levando para não causar constrangimentos ao seu filho. É numa cobrança abusiva de juros no cartão de crédito. É na hora de trocar um produto que você comprou, mas que veio com defeito, e o dono da loja fica te enrolando horas, dias... É na hora de comprar produtos anunciados em encartes de lojas e supermercados, e quando você chega lá, dizem que o produto já acabou; ou então o preço está diferente daquele que foi anunciado. É, também, no supermercado, na hora das compras, que você quer saber o preço de um produto e tem dificuldade, já que não há etiqueta de preço nos produtos, apenas nas gôndolas. É, ainda no supermercado, quando você passa pelo caixa para pagar e vê que o preço registrado no tal sistema de código de barras é maior do que aquele descrito na gôndola.

   Quer mais, consumidor? Então vamos ver se você segura essa!

   É na hora que você não recebe a fatura do seu celular no tempo certo, e depois, no mês seguinte – ou dois meses depois – recebe as duas ou três faturas acumuladas, e vai reclamar na operadora e ela diz que foram problemas operacionais e que não pode fazer nada... E manda você procurar os seus direitos.

   Quer mais, consumidor? Então aguente! 

   É quando você ou um parente seu tem um plano de saúde há vários anos, mas na hora que precisa de um atendimento mais sério, a seguradora alega que tal procedimento não tem cobertura do plano, ou que a doença é pré-existente, e lá vai você correr atrás para salvar a vida de um ente querido... Ou então, quando – em caso de urgência média – o hospital que você procura exige um cheque como caução para garantir o atendimento. É quando você vai comer um pastel de queijo de R$ 2,50 e descobre que o pastel é de vento, que o queijo passou longe; você reclama e tem que ouvir do dono da pastelaria que “o queijo tá muito caro, mas que se quiser com queijo mesmo, o preço é R$ 3,00!”

   Acho que chega, não é consumidor? 
  

   Neste ano, transcorre uma data importante que interessa de perto ao consumidor brasileiro, e constitui em excelente oportunidade para consumidores, fornecedores e agentes públicos refletirem e, se for o caso, mudarem o comportamento. Setembro, dia 11, o Código de Defesa do Consumidor completa 20 anos (a Lei 8.078/90 é de 11/09/90, mas começou a vigorar 180 dias depois, ou seja, 11 de março de 1991). É hora de pensarmos no nosso comportamento no dia-a-dia, ver se estamos sendo um consumidor atento ou não; é hora dos fornecedores repensarem suas atitudes de modo a respeitar mais o consumidor, pois, afinal, ele é peça fundamental no mercado; é hora, também, dos agentes públicos que trabalham com a defesa do consumidor intensificarem a educação tanto de consumidores quanto de fornecedores, visando, sempre, um maior equilíbrio e maior transparência nas relações de consumo.

   Mexa-se, consumidor!

Elias Silva - consumidor, sociólogo, técnico em defesa do consumidor
Natal, abril de 2010